Bem-aventurados os
pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. (Mateus 5;3)
Esse ensinamento se torna difícil de ser compreendido,
quase enigmático. Segundo o rabi Galileu, um dos requisitos para se ter o reino
dos céus é ser pobre de espírito.
Pensemos bem: o indivíduo pobre de espírito é alguém abaixo
da linha da mediocridade. Pobre de espírito poderia ser traduzido por pobre de
sabedoria, pobre de virtudes, pobre de vontade... Pobre de espírito é uma
pessoa exangue, insossa, sem luz, sem brilho.
Partindo desse pressuposto, o próprio Jesus não herdaria o
reino do pai, já que ele não se enquadraria nessa categoria de pessoas.
E o que vemos é justamente o oposto: os ricos de espírito
são os herdeiros do paraíso. São os luminares da ciência, da arte, da religião,
e todos os que impulsionam com o seu talento o resto da humanidade. Eles dão a
sua contribuição para tornar o planeta mais parecido com o reino dos céus.
Então como interpretar o ensinamento do mestre judeu?
Mas daí fica a questão: será que devemos
interpretar os textos evangélicos como nos convém? Será que o cristo não era
realmente a favor dos pobres e contra os ricos?
Não estamos nós incorrendo no erro de colocar palavras na boca de Jesus?
Já que “a letra mata e o espírito vivifica”, devemos , portanto, buscar
ler nas entrelinhas, para não perder o significado que está por trás do
símbolo. Certo?
Em Lucas 6:20; lê-se "bem-aventurados
vós, os pobres, pois a vocês pertence o reino de Deus" o que já muda o
contexto, partindo para uma abordagem da fragilidade da condição social e
econômica daquelas pessoas que o escutavam.
Nesse contexto, o rico não herdaria o reino de deus.
Seria Jesus o precursor do socialismo?
Parafraseando o mestre: “quem tiver olhos para
ver, veja”.
Os Pobres de espírito no sentido restrito do
termo, não poderiam adentrar os páramos celestiais, pela sua oligofrenia, nem
os pobres de recursos seriam os eleitos do paraíso simplesmente por não serem
abastados.
Que seja feita a justiça!
Aos pobres de espírito relatado em Mateus,
poder-se-ia dar um significado de “humildes”.
“bem-aventurados os
humildes, pois dele é o reino dos céus”
Se ele realmente fosse
contra o acumulo de riquezas, da opulência, o que seriam daqueles que hoje seguem
a teologia da prosperidade?
Parece que para os tempos de hoje os
ensinamentos crísticos da renúncia aos bens materiais estão ruindo por terra
abaixo. Vide o capitalismo.
Na parábola de lázaro e o
rico, vemos que o primeiro não herdou os campos Elíseos por ser pobre, mas por
ter suportado a sua pobreza extrema sem se revoltar, enquanto o segundo “queimou
no mármore do inferno” não por ser rico, mas por ser avaro, e não ter usado a
sua riqueza para promover o bem-estar do próximo.
Não há mal nenhum em ser rico!
Não há virtude alguma em ser pobre!
Existem pessoas que são tão miseráveis, que a única coisa
que possuem é o dinheiro. Se lhes tolhem esse bem, entram em desespero, quando
não lançam mão do autocídio.
Existem pessoas tão ricas, que não possuindo nada, nada
podem perder, e por isso tudo o que conquistam lhes é inalienável.
Riqueza e pobreza é uma questão de talentos.
O próprio Jesus disse que veio ao mundo para que todos
tenham vida em abundância. Então porque vivemos em um mundo de contrastes, onde
a opulência coabita com a miséria de forma tão berrante?
Resposta: Questão de talentos!
No livro "O evangelho segundo o Espiritismo, no cap.
XVI, item VIII, se levanta essa questão:
“A desigualdade das riquezas é um dos problemas que em vão se procuram
resolver, quando se considera apenas a vida atual. A primeira questão que se
apresenta é a seguinte. Por que todos os homens não são igualmente ricos? Por
uma razão muito simples: é que não são igualmente inteligentes, ativos e
laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar.” (grifo
nosso)
Nem
todos podem ser ricos porque nem todos têm a capacidade para isso.
A parábola
dos talentos ilustra muito bem o texto que ora traçamos.
Jesus ilustra a
história de um homem, provavelmente rico, que se ausentando de seu país, chama
alguns de seus servos e lhes dá talentos para que administrem enquanto estiver
fora. Talento era o nome da moeda que se usava na época. Hoje talento diz
respeito a capacidades, habilidades.
Cada um desses homens
recebeu uma quantidade de talentos. Aquele senhor, depois de muito tempo, volta
e resolve acertar contas com os três homens que estavam incumbidos de
administrar suas riquezas. Dois deles administraram muito bem, dobrando o valor
que lhes foram tutelados. Porém, aquele que recebeu menos foi duramente
criticado e punido, pois não fez aquele talento que recebeu render durante todo
aquele tempo.
Como todas as
parábolas de Jesus têm o símbolo e o simbolizado, e cada um pode dar uma
interpretação, podemos recolher para nós um dos aspectos que ela nos
proporciona.
Os dois primeiros
servos souberam fazer uso dos seus talentos, multiplicando-os.
Todos nós possuímos talentos
em forma de potencial, adormecido. Só precisamos despertá-los, e
multiplicá-los.
O último servo, que
era pobre de espírito, não soube usar o seu talento. Não o usou. Deixou apenas
adormecido como potencial latente.
A luta
pela igualdade das riquezas é uma guerra perdida. Não há vencedores nem
perdedores. Sempre haverá essa desigualdade, tanto pela naturalidade das nossas
capacidades, como pela necessidade no quadro das múltiplas experiências que o
imperativo da lei da reencarnação impõe.
O
cerne da questão é que as pessoas confundem provas com expiações, no que diz
respeito á pobreza e/ou a riqueza. Alguns acham que a pobreza é uma expiação.
Outros
podem achar que a riqueza é um prêmio, um bônus por bom comportamento.
À
bem da verdade é que ambas são provas. Lembremo-nos que prova diz respeito ao
nosso progresso vindouro enquanto a expiação refere-se a “débitos” de vidas
passadas.
Lembremos
de que toda expiação é uma prova, mas nem toda prova é uma expiação.
Miséria
e riqueza são provas. São testes para o nosso aprendizado e crescimento. Se não
conseguimos realizar a prova à contento, repetiremos a lição onde houvermos
falhado.
É
erro acreditar que se uma pessoa foi mal-sucedida na prova da riqueza, vai ter necessariamente
que passar uma existência posterior como um miserável, para sofrer o que fizera
sofrer os seus subalternos. Ele irá sim, passar pela prova da pobreza como todo
mundo, como uma exigência da própria lei de progresso que regula a natureza das
coisas. Se for orgulhoso, vaidoso e nobre, vai sentir na pele mais
profundamente do que aquele que já conseguiu vencer esses defeitos morais. Nesse caso o espírito orgulhoso se sentirá
em uma existência de expiação.
Wandeilson
silva
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